Silvano

Terno de Reis de Malhada

Juarez

Para apresentar o Terno de Malhada precisamos antes fazer uma observação acerca do nosso olhar sobre o Alto Sertão Baiano, especialmente sobre as comunidades da zona rural e suas pequenas coincidências reveladas como pistas em um mapa do tesouro.

Juarez

Entre as inúmeras riquezas encontradas naquela região algumas se encontram debaixo do chão como pedras preciosas, como as famosas ametistas e minérios como o controverso urânio e o recém descoberto minério de ferro. Mas para nós, realizadores do projeto Reiseiros a maior riqueza daquela região está sobre a terra. Evidente e desapercebida. São as pessoas, suas histórias, seus valores que merecem, a nosso ver, serem descobertas, reconhecidas e valorizadas.

Juarez

A presente observação se faz oportuna porque para chegarmos ao nosso objetivo em busca de algo precioso, passamos antes por alguém sensível e comprometido com o Terno de Reis da zona rural do Alto Sertão da Bahia e que leva por alcunha um nome de pedra, preciosa. Dessas que raramente encontramos a caminhar sobre o chão. Rubi foi quem nos indicou que procurássemos por um senhor, um apaixonado pelo terno de reis, que poderíamos localizar numa localidade “pra lá” de Contendas chamada Malhada. Partimos em busca do tal senhor Silvano, reiseiro de Caetité que ainda não havíamos conhecido em nossa pesquisa de 2010.

Conhecer Malhada já seria um prenúncio do que iríamos encontrar, porque chegar lá não foi fácil. Mesmo com alguma habilidade com as estradas de chão da região, ainda não havíamos encontrado tantas bifurcações pelo caminho. Parecia mesmo um teste de resiliência para ver se desejávamos mesmo alcançar aquele lugar pois havia sempre a opção de buscarmos outros locais de pesquisa. Seguimos, algo nos levava. Havia uma pista, uma casa. Uma pessoa no caminho. Tiolira poderia, com a sua reconhecida hospitalidade nos indicar a morada do tal Silvano. Mas não foi assim que aconteceu. Tiolira voltaria à nossa história, mas não naquela hora. E assim, chegamos quase ao acaso à casa de Silvano. Mas ele não estava. Parecia mesmo que as bifurcações não só nos confundiam como também avisavam. Descemos morro abaixo em caminhada e para nossa alegria nossa viagem havia sido, então recompensada.

Juarez

No meio da trilha um senhor a carregar um mó de lenha, um tanto cismado, reconheceu chamar-se Silvano. Quis saber quem éramos e convidando a entrar em sua casa procurou entender do que se tratava. Apresentamos nossa história e motivo da visita. Chamou nossa atenção a forma inteligente e bem elaborada com que fomos arguidos acerca dos nossos propósitos naquela visita, porém ainda mais atenção nos chamou a mudança do rumo da prosa quando mencionamos a indicação de Rubi e o assunto a tratar, o terno de reis. A indicação do seu nome por alguém de sua confiança e também o assunto a ser tratado, logo logo revelou que estávamos diante de um reiseiro apaixonado. Era o começo da nossa história com o Terno de Reis de Malhada e junto com ele seus integrantes, dona Odetina, Tiolira e tantos outros.

Fotos: Ricardo Prado